segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Pipa falando um pouco sobre meu sentimento.

Se fosse possível deixar para trás aquela história, ainda assim eu não teria feito. Abri os olhos e os perdi nas lágrimas prateadas que caiam por trás das vidraças. Fui em sua direção apenas o suficiente para poder secá-las. Uma agulha trêmula de luz mergulhou na escuridão espalhando refexos irisados sob o infinito, explodindo-o num eco irônico que me fez pensar num arroto sonântico. Em outras palavras, era um relâmpago. Eu teria corrido para me proteger da tempestade que se aproximava, mas quanto mais forte ela caía, mais poderoso era o meu desejo de vê-la se atirar em meus braços. Imolei-me na selvageria daquele aguaceiro, certa de que lavando o corpo, eu libertaria a alma. Deixei que aquela chuva desabasse com todo o seu peso sob a minha cabeça, para levar com ela toda a sujeira que estava impregnada nas margens de minha anatomia. Fiz a passagem de acesso à claridade e comemorei minha volta ao mundo dos vivos apreciando, sentindo e arrancando todas as couraças que cobriam meu espírito. Pela primeira vez em toda minha miséravel existência, minhas preces foram ouvidas, e num ato de caridade com o próximo, Deus abandonou seu egoísmo chamando Cristo à ordem, e fez com que ele me entregasse pessoalmente o paraíso que havia me prometido. O que tem fome de olhar estava de volta, e, receando terminar seus dias como um beato entediado, túmido de paixão, ou compaixão, o que naquele momento já me bastava, decidiu abrir a porta. Naquela noite, fiz as pazes com o altíssimo e descobri que não havia futuro naquelas blasfêmias de autoflagelação com a providência divina, e ambos sabíamos disso. Suspeitei que ele quisesse me reconciliar com mundo, e, que a cópia de mim que andava pelo inferno não era fiel à original. A vida é feita de sonhos, Senhores, e quando estiverem prontos para transformar os seus em realidade, já sabem a quem procurar. Ainda era noite quando aquele anjo vestido de preto desceu do altar. Muito embora a escuridão tornasse mais difícil caminhar, eu já havia atingido o limite das trevas. O amor não é uma estação temporal, é uma emoção atemporal neste nosso tempo infinito de amar. No meu caso, uma história que comecei a escrever há muitos anos atrás e que espero nunca poder terminar.

Pipa. A que recuperou a fé. Em que? Em tudo!

Um comentário:

  1. Oi Nina, só queria os créditos do texto de abertura do seu blog, Flor...Obrigada! bjs!

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