segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

deixe-o ir

Deixe-o ir. Falei com a voz estrangulada. Como fosse uma lâmina, o barco dos sonhos desfeitos singrava lentamente pelo cais derramando sobre o oceano uma lágrima prateada. O remador, cuja pele estava branca como um alabastro, achava-se atrás procurando por uma pedra que levou na pasta. O livro da  memória estava em branco. Continuou passando as páginas.  Não conseguiu enfrentar seu olhar sob o reflexo endurecido no espelho das águas. Quebradas. A alma,  um fardo de roupas rasgadas boiando sob uma poça paralítica. Os ventos do oeste estavam agora parados. Os peixes deslizavam imediatamente para os abismos. Nem restos de arrecifes sobre as tábuas desmaiadas. A luz se  distanciou muito. Nos pontos mais ínvios da encosta, o horizonte se alquebranta entre as ondas feitas de pó de cristal líquido que se refulgiam em purpurinas azul-escuras. Só se sabe do sol quando cada ponta de luz mergulha sob a face das águas. Do mar vinham centenas de milhares de conchas. Eram cascas de feridas já cicatrizadas.




Pipa.

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