sábado, 29 de janeiro de 2011

LIBRA - 29/01/2011

De repente, você tem dúvidas. E muito sérias, sobre tudo que vem fazendo com sua vida. Saturno o tornou mais seletivo, menos espontâneo, com menos liberdade de movimento. Então, aproveite até junho pra fazer todas as perguntas cabíveis.

Identificação

(...)
"Quando pinta um buraco na existência, você tem que tirar forças de dentro para poder colocar alguma coisa dentro daquele vazio."




(Paulo Leminski)
"Seria possível pedir a ele que me desse um roteiro, como um guia turístico de si mesmo? Um manual. Que frase adequada dizer em cada situação. A cor da festa e a cor do luto. Setas indicando direções. As consequências da guerra interna. As prerrogativas do poder."




(Adriana Lisboa)
"Ainda bem que sempre existe outro dia. E outros sonhos. E outros risos. E outras coisas."
"E é assim que hoje, ouvindo samba, decidi começar a caminhar de novo, mesmo com os pés doendo: com a certeza de que em pouco tempo vou encontrar um lugar pra me sentar, tirar os sapatos e apreciar a estrada. Para depois dar mais alguns passos descalça e, com novos calos a proteger os pés, descobrir caminhos que nem estavam no mapa, e voltar ao prazer da viagem."




(Cris Guerra)

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

"... não há portão, nem fechadura, nem trinco que você consiga colocar na liberdade da minha mente."




(Virginia Woolf)
             "Eu quero menos. Menos pensamento, menos dúvida. Um equilíbrio e você de brinde."




(Verônica H.)
                       "Como se o amor fosse curto e simples tal uma canção dessas de rádio."




(Gabito Nunes)
"O que as criaturas desejam é encorajamento. Não se deve censurar sistematicamente os defeitos de alguém, mas apelar para suas virtudes. Ao tentar afastar uma alma do mau caminho, deve-se descobrir e fortalecer o melhor da sua índole, o lado bom que ainda não aflorou. A influência que o bom caráter exerce é contagiosa e pode revolucionar uma vida inteira... Todas as criaturas irradiam o que pensam e o que trazem no coração (...) Quem procura o mal, certamente o encontrará. Mas quando se procura o bem na esperança de encontrá-lo, logo o bem aparecerá..."




(Eleanor H. Porter em: Poliana)

domingo, 16 de janeiro de 2011

Não era eu - dizia às vezes. Tinha o aspecto de quem passava as noites em um caixão de vidro, ouvindo as queixas do cristal se contorcerem de frio. Como se tivesse sido despertada de um sono perpétuo, acordei com a sensação de ter a cabeça cheia de manteiga. Os pensamentos derretiam. As palavras chegavam até a garganta e eram estranguladas por um sorriso retorcido e malicioso que aflorava no canto dos lábios. Tinha a impressão de que agora falava sozinha, lutando para não dar voz aos pensamentos, que tinham a habilidade de um punhal gelado nas mãos de um lunático. Quanto maior o ódio, mais forte era o desejo de afundá-lo. Mais uma vez os pesadelos haviam voltado e com eles o temor de ver aberta aquela ferida negra e sem fundo, escondida num vestido branco esfarrapado que usava para esconder a angústia secreta daquela espera interminável. Fiquei sozinha no quarto, cercada por um espetáculo de silêncios, que fazem jus todos aqueles que se dedicaram à uma existência fantasmagórica. Abri as cortinas para deixar sair o ar opressivo daquela câmara mortuária. Tive a impressão de que os quadros se moviam e as paredes falavam com aquele tom catedrático de quem está acostumada a ser ouvida, mas se perguntava se era escutada. Um asa de luz prateada levantou vôo acima da névoa acinzentada que sepultava a cidade, pousando em cima do telhado. Era um raio. O tempo havia devorado as memórias, que desapareceram sem deixar nenhum rastro, para colocar no lugar delas uma sensação de abandono e enfado. O passado comemorava meu retorno ao mundo dos mortos, brindando a minha rendição incondicional com sabor de infinta ironia. Tinha os olhos e o coração congelados. Meu olhar ausente se distanciava pela noite, fantasiando que se eu os fechasse, não iria perceber que as poucas alegrias tinham se evaporado. Tive o espírito violentado. No lago escuro e turvo das ilusões, afundam e passam os desgraçados. Rosas negras descansam sombrias sobre um esqueleto metálico. Não fui capaz de distinguir o que coloquei no lugar de minhas emoções. Não tenho lembranças, tenho alucinações.












Pipa.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

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sobre o tempo

Desapareci do mundo no espaço de uma temporada a fim de que o tempo apagasse as feridas e a raiva. Passei duas semanas revirando o tambor de minha underwood, escondida em meio a teclas que pareciam enormes aranhas de aço se movendo entre as pilhas de papéis amassados, fazendo autópsias de sentimentos que morreram sem nenhuma explicação. Espremidas entre as vielas da máquina, as palavras se afastavam como uma tripulação de esqueletos que saíam dos túmulos de pedra entre a névoa perpétua, desmanchando-se sob os telhados desbotados da cidade infinita, como se quisessem refletir sobre a desordem que as encerravam. As luzes dos postes desmaiavam num sopro de ausência e perda sobre as calçadas. As ruas, ocupadas por mausoléus de casas, carros e cabarés, pertenciam às sombras de homens e mulheres sem rostos que vagavam como soldados esquálidos do pós-guerra. A começar pelos meus amigos de tinta, os amores invisíveis que viviam nas páginas dos livros, incluindo a barraca de cachorro quente da esquina, o mundo com o qual eu havia sonhado, desaparecia como uma ilusão em meio às longarinas e mendigos gelados para os quais ninguém estendia as mãos. Como fossem agulhas suspensas por um novelo de nuvens carregadas, a chuva caía lentamente atrás das vidraças, perfurando o chão. Era antes uma coisa em que ninguém reparava. Tem chovido todos os dias nesse verão.


Pipa.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

"Eu vou inventar um novo amor que ainda não foi descoberto, feito pra não doer, nem adoecer.
Vou fazer paredes coloridas que derretem quando a tristeza chega perto, só pra sair da frente e deixar um vento com som de piano entrar... Vou inventar avós que nunca morrem e cachorros também... Eu vou inventar uma verdade sem problemas e um caminho doce pra poder voltar e catar todos os caramelos que tiraram de mim... E mesmo que tudo dê errado, mesmo assim, não tem problema. Eu deito no telhado de uma casa qualquer, olho pro céu e invento uma nuvem que chove sorrisos, bem em cima de mim."



(Vanessa Leonardi)
"(...) e me bateu uma vontade insuportável de te abraçar e poder te desejar todas as coisas boas que você merece, e até mesmo as que você nem merece."




(Maria Rita)
"Uma noite de lua pálida e gerânios
 ele viria com boca e mãos incríveis
 tocar flauta no jardim
 Estou no começo do meu desespero
 e só vejo dois caminhos: ou viro doida ou santa.
 Eu que rejeito e exprobro
 o que não for natural como sangue e veias
 descubro que estou chorando todo dia,
 os cabelos entristecidos,
 a pele assaltada de indecisão.
 Quando ele vier, porque é certo que vem,
 de que modo vou chegar ao balcão sem juventude?
 A lua, os gerânios e ele serão os mesmos
 — só a mulher entre as coisas envelhece.
 De que modo vou abrir a janela, se não for doida?
 Como a fecharei, se não for santa?"



(Adélia Prado)

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

deixe-o ir

Deixe-o ir. Falei com a voz estrangulada. Como fosse uma lâmina, o barco dos sonhos desfeitos singrava lentamente pelo cais derramando sobre o oceano uma lágrima prateada. O remador, cuja pele estava branca como um alabastro, achava-se atrás procurando por uma pedra que levou na pasta. O livro da  memória estava em branco. Continuou passando as páginas.  Não conseguiu enfrentar seu olhar sob o reflexo endurecido no espelho das águas. Quebradas. A alma,  um fardo de roupas rasgadas boiando sob uma poça paralítica. Os ventos do oeste estavam agora parados. Os peixes deslizavam imediatamente para os abismos. Nem restos de arrecifes sobre as tábuas desmaiadas. A luz se  distanciou muito. Nos pontos mais ínvios da encosta, o horizonte se alquebranta entre as ondas feitas de pó de cristal líquido que se refulgiam em purpurinas azul-escuras. Só se sabe do sol quando cada ponta de luz mergulha sob a face das águas. Do mar vinham centenas de milhares de conchas. Eram cascas de feridas já cicatrizadas.




Pipa.

domingo, 9 de janeiro de 2011

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

"Ele parece alto num primeiro momento, mas se você olhar direito, tem o charme cafajeste de quem vê o mundo mais de baixo. Não tem jeito aquela boca cortada, seus olhos são de uma profundidade quase cansada. Vai saber o que ele tem, nem ele sabe. Mas tem. Nem posso dizer que tentei evitar, pois já descobri que se você evitar a vida, ela acontece do mesmo jeito."

(Tati Bernardi)

sobre adormecer

de tudo durante a vida
sempre valerá a pena
todo perder, todo ganhar
todo partir, todo ficar
todo encontro, todo desencontro
todo choro, todo riso
a vida é mesmo isso
mesmo que a gente não veja
há tempos de cegueira passageira
em que os olhos serão esquecidos
mas por todo sonho que será sonhado
valerá à pena ter adormecido.




(Cáh Morandi)
"Desisti de salvar o mundo
quero salvar somente o dia
salvar a alegria do nosso encontro
então me preocupo em manter
a doçura do rosto
a leveza do traço
o balançar do corpo
meu corpo em teu abraço
então me despreocupo
me ocupo ao teu agrado
é isso que vale
o resto ao acaso"



(Cáh Morandi)
''O velho mendigo que neste momento acaba de
encontrar num monte de sucata a lâmpada de Aladino -
tão amassada, tão enferrujada e de feitio tão esquisito -
eis que ele a abandona e leva em vez dela uma útil
chaleira. Uma chaleira sem tampa, digo eu, para os que
gostam de pormenores. E não é esta a primeira vez que o
acaso, inocentemente, assim estraga uma bela história.''


(Mario Quintana)

.

 "Que fique muito mal explicado
Não faço força pra ser entendido

Quem faz sentido é soldado

Para todos os efeitos meus defeitos não são meus
Que importa o sentido se tudo vibra?
Não importa o sentido
O bramido do meu canto mudo
Comporta bemóis e sustenidos
Convoca ouvidos surdos
Ao silêncio suave
Da melodia sem conteúdo
Está escrito
Quem não quiser ceder ao canto das páginas
feche os olhos
ou tape com cera os ouvidos."


 

(Alice Ruiz)

terça-feira, 4 de janeiro de 2011


                                        "A vida é feita de poucas certezas e muitos dar-se um jeito."


(João Guimarães Rosa)

sábado, 1 de janeiro de 2011

"Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;(...)
Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumidas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre"


(Carlos Drummond de Andrade)